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Arteterapia em tempos de correria - e um exercício de arte para relaxar

  • Foto do escritor: Ana Paula Batista
    Ana Paula Batista
  • 25 de mai.
  • 4 min de leitura

tintas se dissolvendo na água
Fotografia Ana Paula Batista

“E aí… na correria?”

Comecei a perceber que a pergunta se repetia, em diferentes ocasiões, vinda de diferentes pessoas. Será que eu parecia estar sempre correndo? Isso chamou minha atenção e ligou um alerta de incômodo.

Acontece que não se trata de uma questão individual, até porque na medida do possível venho buscando conscientemente retirar cada vez mais essa “correria” da minha vida. Vivemos hoje na sociedade de desempenho, como bem aponta o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. Saímos da sociedade disciplinar em que éramos sujeitos de obediência para sermos os sujeitos de desempenho e produção. Ao mesmo tempo observamos um aumento no adoecimento mental, em que os transtornos mentais, em especial depressão e ansiedade, chegaram a uma situação incapacitante como nunca visto. Será mera coincidência?


Tempo, tempo, tempo, tempo


Falemos, então, sobre tempo, um dos deuses mais lindos.

Será que estamos dando nosso tempo para aquilo pelo qual vale a pena viver? Busquei em Verena Kast, que diz que a alma precisa de tempo, inspiração para esse artigo.

Estamos vivendo em modo acelerado. Há quem prefira assistir vídeos ou escutar áudios no whatsapp com velocidade aumentada (eu me recuso, faço hora, vou na valsa). Corremos para pegar um transporte, comemos sem prestar atenção, muitas vezes na frente de um computador. Os compromissos se acumulam e a rotina nos atropela. Estamos em modo acelerado, muitas vezes entorpecidos para dar conta, e (sobre)vivendo em piloto automático.

Devemos fazer mais no mesmo tempo, cumprir mais compromissos ou sentir-nos culpados se perdemos um prazo. E existe também uma pressão de resolvermos distúrbios psicológicos rapidamente. E a perda da tranquilidade e do aconchego leva também a uma marginalização da alma. Se permitirmos isso, a vida se tornará mais fria, os relacionamentos serão dominados pela funcionalidade - e muitos temem ou já vivenciam isso. (Kast, 2016, p. 9)


Além de lidar com a divisão do tempo, precisamos lidar com uma aceleração pelo adensamento do tempo, ou seja, fazer várias coisas simultaneamente. Com isso, perdemos capacidade de atenção, paciência e concentração. E, o que é também preocupante, vamos perdendo a capacidade de sentir. O sentir precisa de tempo.

Digo que é preocupante, pois o sentir faz parte da nossa humanidade. Sentir e ficar na experiência, prestar atenção em como ela nos afeta, vai possibilitar a absorção da mesma. Vai criando nossa bagagem e nos compondo como seres únicos que somos.

Verena Kast traz em seu livro A alma precisa de tempo o breve relato de um homem que sofre do que ele mesmo chama de sentimentos de vazio: “Na verdade, eu teria me alegrado com as flores da primavera, mas então me lembrei que havia perdido um prazo. Voltei ao trabalho rapidamente. A alegria sumiu, antes mesmo de surgir.” Não sei como esse relato ressoa em você, mas em mim traz um aperto enorme no peito. 

Como eu disse no início, já tem um tempo que venho buscando uma vida com menos correria, na medida do possível. Acontece que o mais comum é atendermos esse chamado depois de muitos alertas dados pelo nosso corpo. Gritos, na verdade. Dor de cabeça, insônia, coração acelerado, baixa imunidade, dores no corpo, gastrite, refluxo… essas são algumas das formas que o corpo encontra para nos sinalizar que algo está em desequilíbrio. Encontrei o meu refúgio na arte e na arteterapia.


A arte e o tempo


A arte me coloca em um outro tempo, que não é aquele do tique-taque do relógio. Kairós, o tempo de oportunidade, significado e transformação. Pintar, desenhar, fotografar, dançar são formas de me colocar no presente. Sentir. Ficar com minha experiência. Dar à alma o respiro que ela precisa.

Talvez você pense que a possibilidade de trazer a prática artística para o dia seja algo muito distante da sua rotina. Eu também já pensei assim. Mas com a Arteterapia esse processo da prática artística como algo totalmente despretensioso se tornou cada vez mais presente em minha rotina. E tem feito um bem danado!

No processo arteterapêutico fui aprendendo que não preciso dominar técnicas e padrões estéticos. Preciso ter atenção no presente, atenção no meu corpo e usar materiais e linguagens artísticas para expressar o que muitas vezes eu nem encontrava palavras. Por meio de lápis coloridos, tintas e argila, deixar o meu inconsciente se manifestar, deixar as emoções fluírem. E assim fui me soltando e me liberando do que me travava: perfeccionismo. E assim fui me sentindo mais alegre e mais viva.

Muitas vezes achamos que precisamos hibernar em um ateliê para poder criar. Ou que precisamos de muitos materiais. Mas te garanto que em dez minutos muitas cores surgem, tintas se misturam, formas se sobrepõem, papéis rasgados dão vida a novas imagens. O nosso mundo interior vai então aprendendo que existem caminhos criativos para se expressar, que não seja apenas o dos sintomas. O que são dez minutos nessa vida acelerada, afundada em redes sociais que nos trazem ainda mais ansiedade?

Arteterapia em tempos de correria tem sido a minha forma de caminhar em outro tempo. Arte em tempos de correria tem sido um ato, ouso dizer, de resistência. De colocar um ponto de leveza na rotina da alta performance, na produtividade a todo custo, na sociedade do cansaço.


Um convite


Se você teve paciência e chegou até aqui, tenho um convite. Um exercício de arte para relaxar. Pegue um papel, uma caneta e lápis de cor (ou canetinhas, giz de cera, giz pastel).

Coloque essa música para ouvir.

Respire de forma bem tranquila, observando a entrada e a saída do ar. Se quiser, feche os olhos. No seu tempo, percorra a caneta pelo papel em uma linha contínua seguindo o ritmo da música. Que tal colorir as formas que apareceram?

Me conte nos comentários como foi a experiência.



página de caderno com linhas e formas coloridas
Essa foi a minha experiência :)

Se você sentiu aí no coração que a arte também pode te ajudar a ter uma vida mais leve, venha conhecer o grupo Outro Olhar onde proponho todas as semanas exercícios criativos que podem impulsionar a sua prática. E se quiser se aprofundar em um processo terapêutico onde as linguagens artísticas são utilizadas como ferramentas de expressão e acesso ao mundo interior, posso te conduzir nesse mergulho. Podemos marcar uma conversa pra gente se conhecer.



HAN, B. Sociedade do Cansaço. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.

KAST, V. A alma precisa de tempo. Rio de Janeiro: Vozes, 2016.


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