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  • Foto do escritorAna Paula Batista

O ar que me faltou


Nos conhecemos em um curso de escrita afetuosa. Além dos nomes iguais, tínhamos mais algo em comum. Provavelmente não os sonhos que nos colocaram naquela sala, mas talvez a busca por palavras que batem e ficam, que ressoam. Demos boas risadas, com hambúrguer na hora do almoço. Em vez de cartão de visita, trocamos Instagram. Dali em diante ficamos apenas acompanhando os recortes instagramáveis uma da outra. Até que nos reencontramos.


Ela queria uma sessão de fotos. De família? Não. Sozinha.


(uma pausa para vibrar por dentro toda vez que uma mulher decide dar a si esse tempo e experiência)


O ar seria nosso fio condutor. Como retratar o ar? O ar que lhe faltou. O ar que faltou a tantos que lutaram contra a Covid-19, muitos sem sucesso. Mesmo tão abundante, tem hora que ele falta e essa falta deixa rastros imensuráveis. Nas relações, no coletivo, no corpo, na alma.


Uma mulher linda que queria se ver novamente e voltar a respirar, trazendo seu processo para a expressão artística. Queria apossar-se do seu sorriso, tirado pela depressão.


Partindo dessas ideias começou nosso processo criativo. Ensaios conceituais, cheios de propósito, me enchem de vida, me desafiam, me tiram da zona de conforto. Juntas fomos encontrando símbolos, cores e elementos que poderiam expressar seu momento de vida e nos ajudar a materializar a história que ela precisava contar de si mesma. Retratar sua dor e também sua celebração e gratidão pela vida.


O ensaio foi muito fluido. Fotografar a Ana foi fácil, leve, divertido, mesmo buscando criar imagens que retratassem momentos difíceis de sua vida. Aos poucos fomos sobrepondo camadas e passeando pelas ideias que queríamos expressar. Dos galhos secos a uma mulher poderosa, deusa, dona da porra toda. Da limitação de ar para a respiração. Do semblante sério, com olhar profundo, para o sorriso largo que nos convida a rir também. Do seco para o verde. Do preto para o colorido. Do pesar para a gratidão.


Todo o processo de criação do ensaio da Ana, desde a chuva de ideias até a sessão de fotos, mexeu muito comigo e me trouxe o frescor que eu precisava para acertar a rota e repensar nos caminhos que quero percorrer na fotografia daqui pra frente. Seguindo o pensamento de Heráclito de que um homem não entra duas vezes no mesmo rio, eu não sou a mesma depois de um processo intenso como esse. O impacto é real e acontece em duas vias.





Deixo aqui o depoimento da Ana, publicado em seu perfil do Instagram.


“A pandemia deu uma sacodida na minha vida e nesse sacolejo, percebi que algumas coisas saíram do lugar – pro bem e pro mal. E isso tem me feito refletir muito e me trazido a necessidade de me reconectar com algumas coisas que até então eu não julgava tão importantes – como a auto-estima e a vaidade, por exemplo.


Após quase 2 anos trancada dentro de casa, usando pijama e interagindo pouco com pessoas ao vivo, a vaidade, que já era meio minguada, estava próxima de zero. A auto-estima que nunca foi lá essas coisas, desapareceu. Soma-se a isso uma depressão que me tirou o sorriso (que é a coisa que acho mais bonita em mim), posso dizer que foi um período bem puxado!


Mas graças a terapia e à indústria farmacêutica tenho conseguido me recuperar e, como eu dizia, tenho tentado me reconectar com algumas coisas e tirar algumas lições desse período turbulento. E uma coisa que me veio muito forte foi a necessidade de me expressar por meio da arte, do lúdico. De dar voz a uma veia artística que sempre me habitou, mas nunca dei espaço. Assim surgiu a vontade de contar um pouco dessa minha jornada por meio de fotos.


E pra isso, precisava de alguém com quem eu estivesse conectada e tivesse a sensibilidade para captar e traduzir em imagens o que eu tava tentando botar pra fora. Inevitável pensar na minha xará, @anabatista.fotografia, uma fotógrafa talentosíssima e cujas fotos expressam muita poesia.


Nosso processo de construção desse ensaio foi lindo e de muita confiança e parceria. E o resultado foi muito além das minhas expectativas. A Ana mergulhou de cabeça nas minhas ideias e conseguiu captar muito mais do que belas fotos. Ela materializou sentimentos. Tem muita alma nessas fotos! Então esse post/textão, é pra agradecer essa parceira incrível que foi a Ana Paula e dizer que já quero muito mais! Obrigada querida!”


 

Se você também quer um ensaio todo seu, cheio de significado, com a sua cara, com a sua história, vamos conversar! Mande um alô! Terei o maior prazer em te atender.


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